segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Interatividade na TV digital: uma realidade distante

Em Campinas, as TVs já distribuem o sinal digital, mas a interatividade ainda está longe do consumidor.

Quando o projeto da TV Digital brasileira foi lançado, em 2003, a possibilidade de interatividade teve papel de destaque no discurso do então ministro das Comunicações Miro Teixeira, que tratou a questão como inclusão digital para a população carente, que usaria a televisão como um computador. A adesão ao novo sistema vem ganhando investimentos e emissoras em diferentes partes do País. Em Campinas, as TVs já distribuem o sinal digital. Mas a interatividade ainda está longe do consumidor.

O middleware Ginga, programa que permitirá ao telespectador interagir usando o controle remoto, deveria estar concluído e disponível no mercado há algum tempo, mas passou por um revés de propriedade intelectual que obrigou os desenvolvedores a refazer parte do projeto. Refeito, aguarda a homologação do Fórum da TV Digital e a chancela da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para ser distribuído.

A expectativa é de que isso ocorra até o final do semestre, segundo o pesquisador de Telecomunicações do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações de Campinas (CPqD) e especialista em TV Digital, Daniel Pataca. Mas daí a ganhar a casa do consumidor, há outro longo percurso, conforme ele.

O Ginga é composto de duas partes, explica o pesquisador. A declarativa foi desenvolvida na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e usa o NCL, como um HTML. Essa parte está pronta e especificada. A outra parte, procedural, foi desenvolvida na Unversidade Federal da Paraíba (UFPB), em Java, inicialmente baseada no padrão europeu GEN. Mas ocorreram problemas de propriedade intelectual e ela teve de ser refeita. Foi concluída e batizada de Java DTV, desenvolvida para o Brasil, e aguarda homologação.

Pataca explica que o middleware é de código livre, pode ser baixado por qualquer pessoa interessada. “Mas baixar um programa na TV não é tão simples como baixar no computador. A maioria das pessoas não vai saber como lidar com o Ginga”, acrescenta. De acordo com ele, a tendência é a de que fabricantes desenvolvam recursos a partir do middleware para atrair clientes. Mas nada disso terá validade se as emissoras não desenvolverem conteúdos interativos.

“Hoje há uma discussão dentro das emissoras sobre como fazer isso. Elas não têm interesse que o telespectador abandone a programação. Estão analisando como usar a interatividade sem atrapalhar a audiência”, diz o pesquisador. Ele acredita que as empresas de televisão irão adotar a interatitividade para reforçar os programas, como permitir votações ao vivo ou vender produtos de personagens de novelas.

Embora seja possível navegar pela internet na televisão, Pataca defende que essa não deve ser a principal finalidade da TV digital interativa. “A TV é um meio diferente do computador. Poderá ser usada para acessar a internet, mas não acredito que vá ser o meio preferencial, mesmo que com o tempo sejam desenvolvidas interfaces mais amigáveis para facilitar a navegação”, argumenta. Programas interativos educacionais e mesmo a questão da inclusão digital, de qualquer forma, devem ficar restritos a emissoras públicas.

Pataca aposta que a interatividade da TV Digital será mais amplamente utilizada em aparelhos de telefone celular. “Hoje já há modelos no mercado aptos para receber o sinal digital”, comenta. Assistir aos programas de televisão não custa nada para o usuário de telefone. Mas as operadoras poderão cobrar quando o consumidor passar a usar a interatividade. No entanto, tudo depende de como se comportará o mercado e as emissoras.

“A interatividade na TV digital ainda é um aprendizado. Mesmo no Exterior, ela não tem um impacto grande, por enquanto. É preciso achar esse novo modelo. A TV digital interativa não vai ser nem uma televisão comum nem um computador. Vai ser alguma coisa completamente diferente”, analisa Pataca.

Fonte: Cosmo

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