segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Manual prático da TV Digital

Guia completo para entender o que muda na TV a partir de 2 de dezembro.

SÃO PAULO - Como se fosse um programa transmitido em alta definição (HD), a estréia da TV digital no Brasil pode ser vista por mais de um ângulo: significa, ao mesmo tempo, uma enorme mudança, comparável à transição do televisor preto e branco para o sistema em cores, e nenhuma mudança.

Para o País, a tarefa que se inicia às 20h30 deste domingo - com a transmissão em HD de um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva direto da Sala São Paulo - é lenta e complicada. Envolve não só o governo federal, como todos os estados, as emissoras de TV, a indústria de eletroeletrônicos e o comércio varejista, numa transição que terminará em 2016, quando o padrão digital terá substituído totalmente o analógico.

Navegue pelos links abaixo e tire todas as dúvidas sobre TV digital:

O que é:

Como se fosse um programa transmitido em alta definição (HD), a estréia da TV digital no Brasil pode ser vista por mais de um ângulo: significa, ao mesmo tempo, uma enorme mudança, comparável à transição do televisor preto e branco para o sistema em cores, e nenhuma mudança.

Para o País, a tarefa que se inicia às 20h30 deste domingo - com a transmissão em HD de um discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva direto da Sala São Paulo - é lenta e complicada. Envolve não só o governo federal, como todos os estados, as emissoras de TV, a indústria de eletroeletrônicos e o comércio varejista, numa transição que terminará em 2016, quando o padrão digital terá substituído totalmente o analógico.

O novo sistema traz ganhos excepcionais na qualidade de imagem e som, além de introduzir no Brasil a multiprogramação* e as infinitas possibilidades do uso interativo da TV. Não faltarão demonstrações nas vitrines das lojas comparando os dois sistemas e comprovando a evolução que já pôde ser percebida em transmissões experimentais, como durante o jogo do Brasil contra o Uruguai, na semana passada, ou nos capítulos da novela Duas Caras, inteiramente produzida em alta definição.

O sistema de TV digital adotado no Brasil tem como base o padrão japonês ISDB-T, que era o preferido dos radiodifusores. O governo brasileiro assinou um acordo com o Japão em junho do ano passado. O padrão japonês é mais novo que as alternativas - o americano ATSC-T e o europeu DVB-T - e, por isso, tecnicamente melhor. Antes de ser adotado no Brasil, houve uma atualização. A principal mudança foi a troca da tecnologia de compressão de vídeo. Por isso, não adianta trazer um televisor do Japão, que não vai funcionar aqui.

Na sua casa, no entanto, apesar de toda a tecnologia envolvida, a transformação será pequena. Em termos práticos, quase nada vai acontecer domingo*. Por enquanto, a transmissão será exclusiva para a Grande São Paulo, incluirá apenas a TV aberta e, ainda assim, só estará disponível para quem já tiver comprado o equipamento necessário: um conversor e um televisor com resolução mínima de 720 linhas.

NO AR, POUCAS ALTERAÇÕES

As emissoras têm pouquíssimos programas produzidos em alta definição e não planejam ainda a exibição simultânea de vários programas nos "subcanais". E até que o software Ginga, desenvolvido por pesquisadores da PUC-Rio e da Universidade Federal da Paraíba, esteja funcionando, os recursos de interatividade não serão mais complexos do que o guia de programação que já existe na TV por assinatura.

Na TV paga, por sinal, nada muda de imediato*. Embora seja digital, a transmissão da Net, da TVA e da Sky não é feita em alta definição. Se quiser assistir à TV aberta em HD, até que as empresas lancem produtos híbridos, você precisará alternar entre o decodificador da TV por assinatura e o novo conversor. Net e TVA prometem solucionar o problema em dezembro ou no começo do ano - com mais custos para os clientes. No caso da Sky, a transição deverá acontecer apenas no fim do ano que vem.

Este caderno traz um "curso básico" de TV digital para você entrar, com calma e conhecimento, nesta nova era. O Estado explica como funciona o sistema, calcula os custos envolvidos, mostra o que está e o que não está "no ar", compara o sistema com os de outros países, mostra o que muda na produção e na programação das TVs e ainda traz um grande tira-dúvidas para você consultar antes de tomar uma decisão. E, como você logo perceberá, o assunto HDTV também é um festival de siglas.

(*O asterisco que aparece neste e em diversos outros textos do caderno indica que a questão é tratada novamente na seção tira-dúvidas.)

Como fica o televisor analógico:

Quem tem TV analógica vai deixar de ver televisão a partir de domingo? De jeito nenhum*. Se isso acontecesse, seria o mesmo que desligar um país inteiro: 93% das 54,6 milhões de residências com TV têm aparelhos analógicos. E apenas 4,7 milhões de lares têm TV por assinatura, que é digital, mas sem alta definição. E, de todo modo, a transmissão digital, por enquanto, vale só para a Grande São Paulo. No resto do Brasil, como já acontece em outros países que passam pela transição, o cronograma de implantação da TV digital é longo: termina em 2016. Como cada emissora recebeu um canal novo para transmitir o sinal digital, até lá, o conteúdo do analógico deve ser igual ao do digital, com qualidade de imagem mais baixa. O último dia da TV analógica no Brasil está marcado para 29 de junho de 2016, uma quarta-feira - você tem, portanto, pouco mais de 3.100 dias para definir o que fazer e não perder a novela ou um jogo importante que esteja passando na ocasião.

Como funciona o sistema:

Gravação
Os programas são gravados em alta definição (HDTV, com 1.080 linhas) e formato widescreen (16:9) ou então em definição padrão (SDTV, com 480 linhas) e formato tradicional (4:3), já com câmeras digitais. O som captado pode ser em estéreo ou surround 5.1. No futuro, as emissoras poderão preparar conteúdo interativo para exibir durante a atração.

Codificação
Os sinais de vídeo e áudio sofrem codificação e compressão. Com isso, tornam-se "menores" e mais fáceis de transmitir. O sistema de TV digital brasileiro é o primeiro no mundo a adotar o padrão MPEG-4 para esse processo - mais avançado do que o MPEG-2, usado em outros países. A adoção do formato foi defendida pelos pesquisadores.

Multiplexação
Nesta fase, vídeo, áudio e também a interatividade (quando houver), que antes recebiam um tratamento independente, passam por um processo que os prepara para serem transmitidos juntos e ao mesmo tempo, em um único feixe de dados. A multiplexação funciona do mesmo modo que um funil digital, capaz de agrupar todas as informações.

Transmissão
Antes de os dados serem enviados pelas antenas gigantes das emissoras, eles passam pela modulação. Com esse "tratamento", ganham o formato necessário para viajar pelo ar até a casa dos telespectadores. Foi por causa disso que o governo decidiu adotar a tecnologia japonesa, considerada mais robusta pelas emissoras.

Recepção
As antenas residenciais de UHF captam o sinal e mandam para os conversores ligados a TVs comuns ou para aparelhos com decodificador embutido, que o transformam em imagens e sons. A interatividade é lida pelo middleware, uma camada de software - aqui, foi adotado o Ginga, desenvolvido no País, mas ainda não incluído nos conversores.

Retorno
No futuro, o telespectador poderá assistir ao programa e interagir com ele, usando o controle remoto. As informações digitadas serão enviadas de volta à emissora por um canal de retorno, que poderá ser a linha telefônica ou um sistema de internet sem fio. Por enquanto, a única interatividade permitida será acessar o guia de programação*.

Onde liga:

As opções de cabos para plugar os conversores nas Tvs

HDMI - É a melhor opção. Basta ligar o cabo HDMI no conversor e, depois, na TV, para ter a melhor qualidade de imagem. Mas apenas as TVs mais novas, geralmente de plasma e LCD, vêm com entradas deste tipo

VÍDEO COMPONENTE - Segunda melhor alternativa, é compatível com um maior número de TVs. O inconveniente é de ordem prática: você precisa ligar um ?espaguete? de cabos do conversor à televisão

VÍDEO COMPOSTO - Muito usado antigamente para ligar os videocassetes às TVs, este cabo só deve ser adotado se não houver como plugar o conversor à TV pelas opções acima. A qualidade da imagem piora bastante

RF - É o mesmo tipo de cabo que vem da antena externa do prédio ou da sua casa. TVs muito antigas só aceitam este tipo de conexão. Mas não espere nada além de imagens bem sintonizadas ao usá-lo entre o conversor e o aparelho.

O que acontece com a TV a cabo:

Nada muda no próximo domingo para quem tem TV paga. Os canais por assinatura já são digitais, mas não têm alta definição*. Cada empresa tem seu cronograma para oferecer conteúdo no novo formato. Mas, em todos os casos, será preciso trocar o decodificador de TV paga para melhorar a definição da imagem - e o custo será do cliente.

Enquanto aguardam a oferta de serviços e de novos aparelhos da Net, da TVA e da Sky, os assinantes podem assistir à TV digital em alta definição com o uso de um conversor e uma antena UHF. É possível ter, ao mesmo tempo, TV paga e TV aberta em um só televisor, com o incômodo de trocar do decodificador para o conversor (e vice-versa) toda vez que quiser alternar o sistema.

NET
A Net Serviços prevê para o próximo mês o lançamento de seu decodificador com alta definição. "O valor da adesão ao serviço será muito compatível ao que os fabricantes estão cobrando pelo conversor de TV aberta", diz Alessandro Maluf, gerente de Produtos da empresa. Além dos canais abertos, a Net planeja lançar o canal Globosat HD. Posteriormente, outros canais pagos, como o Telecine e o HBO, também terão versões em alta definição. "Esse conteúdo é para quem tem TV de plasma ou LCD", explica.

A empresa vai oferecer aos clientes, por preço ainda não definido, um decodificador que funciona como gravador digital de vídeo (DVR, na sigla em inglês). O equipamento vem com um disco rígido de 160 gigabytes para gravar a programação. Apesar de a caixa já vir pronta para o serviço, a função só deve ser ativada em fevereiro.

TVA
"A TV aberta digital vai estrear para ninguém", afirma Virgílio Amaral, diretor de Estratégia e Tecnologia da TVA. Segundo ele, 60% das residências das classes A e B em São Paulo têm televisão por assinatura e os televisores de plasma e LCD, preparados para a alta definição, estão nessas casas.

A TVA planeja lançar seu novo decodificador com alta definição a partir de janeiro do próximo ano. Será diferente do equipamento oferecido numa promoção feita em conjunto com a Gradiente em 2006, para a Copa do Mundo. Quem comprou o decodificador na promoção terá o aparelho trocado sem custos.

SKY
O prazo definido pela Sky para oferecer a alta definição é o Natal de 2008. Em 5 de outubro, foi lançado o satélite Intelsat 11, com capacidade para abrigar os canais de alta de definição da Sky. A TV paga via satélite é digital desde o seu lançamento no País, em 1996. A Sky oferece serviços interativos desde novembro de 2000.

Quanto custa:

Trocar o sistema analógico pelo digital de alta definição traz alguns custos - e eles não são baixos. O preço dos set-top boxes (por aqui, já conhecidos como conversores) varia de R$ 500 a R$ 1.200. As televisões com decodificador embutido não saem por menos de R$ 8.000. Só a antena UHF é barata: R$ 100.

Se quiser fazer um investimento menor e continuar com sua TV analógica, é possível aderir ao sistema digital apenas com a instalação de um conversor - mas desprezando as imagens em alta definição, o maior atrativo da mudança.

Para ver novela, filmes e jogos de futebol com um impressionante nível de detalhamento, é preciso desembolsar bem mais do que o valor do conversor básico. Uma TV Full HD custa cerca de R$ 6.000. E você não vai gastar esse dinheiro e economizar no conversor: o topo de linha sai por R$ 1.000. Veja ao lado as simulações de dois "pacotes digitais".

O que pega e o que não pega:

Os professores Luiz Fernando Soares, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, e Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), são capoeiristas. Como foram eles que lideraram os grupos de pesquisa que criaram o software de interatividade da TV digital brasileira, não teve jeito: o Brasil entra na era da alta definição com um programa chamado Ginga.

"Ginga faz referência, ao mesmo tempo, à nossa arte e à nossa luta de resistência", explica Soares. O software foi resultado da união do trabalho realizado separadamente pela PUC-Rio e pela UFPB, no âmbito das pesquisas do Sistema Brasileiro de Televisão Digital, ambos financiados pelo governo. Os nomes dos projetos eram Maestro e FlexTV. "Na verdade, o Ginga é o resultado de um trabalho que começou muito antes, há 18 anos", diz o professor da PUC-Rio. "Guido foi meu aluno de doutorado."

O Ginga é a única tecnologia genuinamente nacional no sistema nipo-brasileiro de TV digital. Com o software, será possível utilizar na TV aplicativos parecidos com os que rodam na internet*. Os aparelhos lançados até agora não vêm com o Ginga. Os fabricantes alegam que o software não está pronto, enquanto os pesquisadores que o criaram afirmam que ele está, sim - e há vários meses. O problema é que o software tem que ser adaptado para cada tipo de aparelho, levando-se em conta as diferenças nos componentes utilizados, e isto ainda não foi feito. Na PUC-Rio, Soares tem o Ginga instalado para demonstração.

"Houve um pouco de atraso", explica Luiz Eduardo Cunha Leite, diretor-executivo da Mopa, empresa especializada em adaptar o Ginga para os diferentes tipos de aparelhos. A Mopa foi criada por pesquisadores do grupo do professor Guido Lemose e tem escritórios em João Pessoa e Natal. "O software está funcional, só faltam alguns ajustes."

Os fabricantes tiveram que desenvolver os conversores e os aparelhos em poucos meses para o lançamento, e dizem que não houve tempo suficiente para testar o Ginga de maneira apropriada. A idéia deles é lançar novos modelos de aparelhos em 2008, já com o software e recursos interativos.

Segundo Soares, a interatividade é nova até em outros países, onde a TV digital existe já há alguns anos. "A única coisa que eu sei é que os aplicativos vão ser completamente diferentes desses, que fizemos apenas para demonstração", diz o professor. "A gente não é artista. Quando os artistas começarem a desenvolver os aplicativos, vamos conhecer todo o potencial da interatividade."

Como é em outros países:

O mundo da televisão digital se divide basicamente em quatro grandes grupos: o americano, com o sistema ATSC; o europeu, que adota o padrão DVB-T; o japonês, chamado ISDB-T, e o chinês, exclusivo, com o DMB-T/H. A essa confusão de letras vai ser acrescentada neste domingo a sigla ISDTV, que denomina a tropicalização feita no Brasil a partir do sistema japonês. Abaixo, apresentamos as vantagens e desvantagens de cada modelo de TV digital de alta definição:

ATSC
Origem: Estados Unidos.
Países que adotaram:Estados Unidos, Canadá, México e Coréia do Sul.
Vantagens: Foi o primeiro padrão internacional de TV digital aberta. Privilegia a alta definição.
Desvantagens: Não tem transmissão móvel dentro do canal. A recepção com antena interna é mais difícil.

DVB-T
Origem: Europa
Países que adotaram: toda a Europa, Austrália, Nova Zelândia, Taiwan e Cingapura, entre outros.
Vantagens: Deu ênfase à multiprogramação, a transmissão simultânea de vários programas num só canal. Tem tecnologia de transmissão mais robusta que a americana.
Desvantagens: Assim como o americano, não tem transmissão móvel dentro do canal. Na Europa, foi implementado sem alta definição.

DMB-T/H
Origem: China.
Países que adotaram: China e Hong Kong.
Vantagens: Deve ter mobilidade em alta definição e alcance de transmissão maior que o padrão europeu.
Desvantagens: Ainda não está disponível comercialmente e, pelo menos por enquanto, é exclusivo da China.

ISDB-T
Origem: Japão.
Países que adotaram: Japão e Brasil (sistema adaptado)
Vantagens: Transmissão para celular no próprio canal e sinal mais robusto que o dos EUA.
Desvantagens: Só é usado no Japão e tem equipamentos mais caros que o dos padrões americano e europeu, por questões de escala.

ISDTV
Origem: Japão/Brasil.
Países que adotaram: Brasil (adaptação do sistema japonês).
Vantagens: Utiliza tecnologia mais avançada de compressão de imagem do que o próprio modelo adotado no Japão. Tem sistema mais completo de interatividade.
Desvantagens: Devido à atualização tecnológica, não é compatível com o padrão japonês e os equipamentos são ainda mais caros.

O que muda na TV:

As emissoras estão passando pelo mesmo dilema que você: também têm que se preocupar em trocar o equipamento para aproveitar a nova tecnologia. E, como muitos dos telespectadores, as redes vão manter, ao menos temporariamente, um sistema híbrido. Com o tempo, antenas, câmeras, iluminação, ilhas de edição serão aposentados para dar lugar a novos aparelhos e técnicas de produção. Mas, por enquanto o mundo analógico e o digital ainda convivem nos bastidores das TVs.

"É preciso migrar todos os processos e isso é caro", diz o gerente de Engenharia de Produção da Rede Globo, Celso Araújo. Por causa do custo - e da desconfiança de que a TV digital demore para "pegar" - cada emissora está em um estágio diferente. Entre as mais adiantadas, o SBT diz possuir equipamentos para produzir todas as atrações em HD. A estréia deve ser com o Qual é a Música. A Band diz que, em janeiro, sua faixa nobre já será no formato.

A Globo, ainda que venha produzindo a novela Duas Caras em HD e tenha feito testes em jogos de futebol, é cautelosa em relação à mudança de outros programas. A emissora deve esperar a disseminação do sistema para ampliar a grade digital.

A Record deve ter programas próprios em HD só em 2008. Já a MTV calcula três anos para estar toda digitalizada. Gazeta e Cultura estão um pouco atrás. A primeira começou agora a comprar equipamentos e promete programação em alta definição para o meio de 2008. Esse também é o prazo da Cultura para exibir algumas atrações em HD. "Mas a emissora adotará a transmissão de dois canais: um com programação normal e outro com atrações educativas", adianta o diretor de Engenharia da Cultura, José Chaves.

Nenhuma emissora, porém, terá 100% de alta definição este ano - e talvez nem em 2008. Quem possuir uma TV Full HD verá mudanças repentinas de qualidade e de tamanho das imagens na tela. Para minimizar isso, os canais usarão um software que simula a alta definição. "Não é perfeito, mas melhora muito", diz o diretor de Engenharia do SBT, Roberto Franco.

As produtoras seguem a transição. A Mixer possui equipamento digital por exigência internacional. "Há redes como a NHK (Japão) que só aceitam produtos em full HD", diz o sócio Fernando Dias. Para atrações nacionais, a aparelhagem ainda não será usada. O2 e Conspiração, que atuam em TV, cinema e publicidade, continuam produzindo em película e finalizando em HD.

No mercado publicitário, há expectativa do aumento da audiência - por causa da mobilidade - e cautela em relação à interatividade, recurso que não virá tão cedo. "Precisamos nos aperfeiçoar para lidar melhor com isso", afirma o diretor de Mídia da DPZ, Flávio Rezende."COM BRUNA FIORETI E ETIENNE JACINTHO

Crítica de altíssima indefinição:

Nessa maré de TV digital, muita gente vai naufragar. Pelo menos no conceito dos telespectadores. Com a alta definição, celebridades vão se humanizar - digamos assim - e manchinhas, espinhas e ruguinhas vão ficar mais evidentes. E isso não é papo-furado! Em uma degustação feita na redação do Estado com uma TV Full HD, muita gente, em vez de admirar a qualidade das imagens, queria mesmo ver a Paula Toller, do Kid Abelha. E a bela recebeu críticas.

Se as pessoas gongaram a loira - desculpem, mas Paula é linda mesmo em HD -, pense no que vai acontecer quando a Band colocar o Raul Gil no ar em alta definição. O que ele fará com aquele cabelo ainda é uma incógnita... E essa será justamente a primeira atração da rede em HD. Resta à Band torcer para que o apresentador não espante a audiência!

Quem vai sofrer mais com a tal da alta definição são as personalidades que já parecem plastificadas, pois elas não poderão contar com a baixa resolução da TV atual para disfarçar o estica-e-puxa - aquele perceptível quando você vê a celebridade pessoalmente. Hebe, Ana Maria Braga, Eliana e companhia devem estar felizes por não terem seus programas exibidos em HD tão cedo.

Já Glória Maria entrou de cabeça na nova era e gravou em HD um especial para o Fantástico. Corajosa! Mas, Glória, esqueça as lentes coloridas! Se em uma transmissão standard, o efeito dos olhos claros já é péssimo - e isso é uma unanimidade -, imagine em alta definição. Por favor, não faça isso!

Outra vedete da HD é o futebol. Mas para esse esporte de alta definição muscular, a regra é clara: prefira jogos do campeonato europeu e os da seleção italiana. O susto, com certeza, vai ser menor!

Tira-dúvidas:

Minha TV analógica vai parar de funcionar no próximo domingo?
Não. Cada emissora recebeu um novo canal para o sinal digital, e as transmissões analógicas continuam no ar pelo menos até 2016. Não é preciso se preocupar com isso neste momento. Você só precisa comprar um equipamento novo se quiser desfrutar agora da programação em alta definição e da melhora na qualidade da transmissão.

O que muda na televisão por assinatura com a estréia da TV digital?
Nada. Quem vai se tornar digital no domingo é a TV aberta. A televisão por assinatura já é digital, apesar de não ter ainda canais em alta definição. Cada empresa de TV
paga definiu seu próprio cronograma para oferecer conteúdo em alta definição. A Net prevê lançar o serviço em dezembro, a TVA em janeiro e a Sky no Natal de 2008. Será preciso trocar o decodificador, e as empresas vão cobrar por isso. Quem quiser, pode comprar um conversor de TV aberta e ligá-lo ao televisor, junto com a caixa da TV paga.

Tenho um televisor de LCD ou de plasma. Já estou preparado para a TV digital?
Não. Os televisores com receptores embutidos começam a chegar agora ao mercado. Quem já tem um aparelho de plasma ou de tela de cristal líquido (LCD) terá que comprar um conversor, para receber os canais digitais. Os aparelhos "Full HD" permitem assistir aos programas com o máximo de qualidade de imagem, enquanto os "HD Ready" não.

Posso assistir à TV digital no meu televisor de tubo?
Sim. Quem tem TV de tubo, e não tem televisão por assinatura, pode comprar um conversor, para receber os canais digitais. Não dá para ter alta definição no televisor de tubo, e o aparelho transforma o sinal digital em analógico, reduzindo a qualidade da imagem. Mesmo assim, pode ser interessante comprar um conversor, se o sinal de TV analógica que chega à sua casa é ruim. Não existe imagem ruim na TV digital. Ou o canal pega bem ou a tela fica preta, sem aparecer nada.

Posso assistir à TV digital no meu celular?
Não. A TV digital tem transmissão para dispositivos móveis, mas os celulares que existem hoje no mercado não conseguem receber o sinal, que é gratuito. Será preciso trocar o aparelho para receber esse sinal. Ainda não existem no mercado telefones móveis que funcionem nas redes das operadoras brasileiras e recebam o sinal digital.

Posso assistir à TV digital no meu computador?
Sim. Existem no mercado receptores para microcomputadores, com conector no formato USB. Eles captam o sinal transmitido para celulares e aparelhos portáteis, bom para telas de até 14 polegadas. Os fabricantes preparam outros tipos de equipamentos, que combinam televisão e computador.

Assisto à TV aberta via parabólica. O que muda no domingo?
Nada. Quem está se digitalizando é a televisão com transmissão terrestre. Deve haver, mais para frente, um processo de digitalização do sinal que chega via satélite, mas ainda não foi definido um cronograma.

Não moro em São Paulo. Quando a TV digital chega à minha cidade?
O prazo para a digitalização de todas as emissoras vai até 2013. A estréia da TV digital no domingo é somente em São Paulo. Cidades vizinhas podem até receber o sinal. As outras capitais devem iniciar as transmissões durante o próximo ano. O governo espera que o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília tenham TV digital ainda no primeiro semestre de 2008.

Posso acessar a internet da minha televisão?
Ainda não. A televisão terá serviços interativos, parecidos com os da internet. Será possível responder a enquetes durante os programas, escolher entre imagens geradas por câmeras diferentes e até fazer compras. Os conversores e televisores anunciados até agora, no entanto, não têm o software de interatividade, chamado Ginga. A maioria deles não está preparada para receber o software, e precisará ser trocada quando o Ginga estiver disponível. Quando houver o

Ginga e o conversor permitir a conexão com um serviço de telecomunicações, como a banda larga ou o celular, será possível até acessar a rede mundial a partir do televisor.

Toda TV digital é de alta definição?
Não. Os canais de televisão por assinatura, por exemplo, já são digitais, mas ainda não têm alta definição. As emissoras abertas vão fazer gradualmente a transição para a alta definição, começando com filmes, algumas novelas e eventos esportivos. Na TV paga, as empresas preparam o lançamento de canais em alta definição.

Terei mais canais com a TV digital?
Inicialmente, não. Mas, tecnicamente, é possível ter mais opções. A TV digital permite a
transmissão de vários programas ao mesmo tempo, em um só canal. Apesar disso, as emissoras comerciais não parecem interessadas nesse recurso, chamado de multiprogramação. Elas preferem transmitir em alta definição, que ocupa quase o canal todo.

Se eu trouxer um televisor do Japão, ele funciona no Brasil?
Não. O padrão japonês é a base do sistema brasileiro. Mesmo assim, não adianta importar um televisor do Japão, que ele não vai funcionar aqui. O Brasil atualizou o padrão japonês,
trocando a tecnologia de compressão de vídeo. As TVs japonesas não são capazes de mostrar
os canais no Brasil.

As transmissões analógicas vão continuar para sempre?
Não. As transmissões digitais estão previstas para todas as cidades onde existe TV aberta até 2013. As transmissões analógicas devem continuar até 2016. Depois disso, todos aparelhos precisarão ser digitais. A não ser que o governo decida prorrogar o prazo.

Fonte: Estadao

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