domingo, 8 de fevereiro de 2009

TV Digital: esclarecendo questões sobre o potencial da interatividade

Por Lygia de Luca, repórter do IDG Now!

Interatividade já existe no mundo? Programação interativa existirá para celulares? Conversor de hoje suportará? O IDG Now! responde.

A TV Digital brasileira, que fez aniversário de 1 ano em dezembro de 2008 e está presente em nove cidades brasileiras, ainda não mostrou o potencial de interação rica prometido pelo middleware Ginga.

Especialistas afirmaram, em evento da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática, que a interatividade chegaria em junho de 2009. O Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital Terrestre (SBTVD) confirma que é possível o acesso a programas interativos no 1º semestre deste ano.

A questão ainda é incógnita, contudo. O Fórum revela que a norma para a interatividade móvel foi aprovada em 2007 e só depende dos fabricantes criarem dispositivos que dêem suporte e torná-la realidade. Este ano, foram impostas portarias que obrigam fabricantes brasileiros a criarem celulares que recebam o sinal digital a partir de 2010.

A interatividade móvel pode ainda gerar um entrave quando se participa de um concurso por SMS enquanto se assiste a TV Digital pelo celular. Afinal, o canal de retorno da informação será o celular - surge então um desafio técnico, pois se milhões de mensagens são enviadas, a carga é extremamente exigente para a operadora.

Além disso, os conversores populares a 200 reais ainda não chegaram ao mercado - há apenas um modelo da Proview que custa 299 reais. Estes modelos não estão prontos para a interatividade, pois não têm o middleware Ginga. Mas só 650 mil brasileiros têm TV Digital - não interativa -, e ainda não precisam de um novo modelo.

Hoje é possível comprar programação por Pay Per View e escolher por qual câmera se vai assistir a uma partida de futebol - esta interatividade básica existe na TV Paga. O Ginga promete levar os telespectadores muito além. Nos EUA, já é possível comprar pizza pela TV, com o serviço da TiVo.

E no Brasil? Quando a TV será interativa? O que é preciso para usufruir?

Quando chega?
De um ponto de vista otimista, no 1º semestre deste ano. Mas um especialista também calcula em 2012. Segundo o Fórum SBTVD, a interatividade já poderia existir em celulares e outros dispositivos móveis desde 2007.

“Nesta data, a norma para implementação móvel ficou pronta. Era só questão de os fabricantes resolverem colocar nos dispositivos”, afirma Luiz Fernando Gomes Soares, membro do Fórum e professor titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).

Falando sobre interatividade por conversores tradicionais para TVs, Soares revela que há um empecilho. “Ainda está pendente uma questão de propriedade intelectual da parte Java do Ginga”, diz. “Temos duas versões do Java, uma antiga com base na especificação Gem, e a nova se baseia no pacote da Sun.”

Este impedimento será resolvido “até o final março pelo Fórum SBTVD”, revela Soares. Ou seja, se depender desta decisão, “poderemos ter um produto interativo ainda este semestre”.

O presidente da AgênciaClick, Abel Reis, é cético. “Sinceramente, eu já fui mais entusiasta quanto a prazos. Mas hoje não acredito em interatividade rica antes de 2012”, diz. A agência, inclusive, descontinuou um laboratório de pesquisas sobre anúncios interativos.

A conclusão faz sentido quando se retoma a revelação de que a norma para interatividade em celulares está pronta e não foi usada. “Assim como não tinha problema para o portátil, não vai ter para o fixo. Mas até agora não foi criado um portátil interativo”, pondera Soares.

Conversor
Os aparelhos disponíveis para compra hoje no mercado não são compatíveis com a interatividade.

Por enquanto, apenas 650 mil telespectadores têm TV Digital, mas existe um potencial público de 40 milhões de brasileiros prontos para adquirir um conversor, diz o Fórum SBTVD.

Soares explica que “alguns conversores vendidos sem o middleware Ginga têm possibilidade de upgrade, mas os fabricantes não têm obrigação de fazer a atualização”.

Teoricamente, quem já comprou seu set top box deverá trocar de modelo caso queira usufruir da interatividade. Afinal, é o middleware que dará suporte à interação pelo conversor.

“O canal de interatividade, que é uma rede como outra qualquer, tem suporte no Ginga”, diz Soares. O funcionamento pode ser comparado ao processamento da internet pelo PC.

O sistema de TV brasileiro dá suporte a qualquer canal de interatividade, segundo o especialista do Fórum. Isso quer dizer que “o conversor pode ser conectado em outra rede” - como provedores de canais pagos ligados à banda larga ou serviços wireless - para usufruir da interatividade.

Aplicativos
Um mercado será aberto aos desenvolvedores para a criação de aplicativos que permitam a interação. “Hoje, quem tem mais coisas atraentes são provedores de conteúdo. Eles naturalmente desenvolverão seus próprios aplicativos e, claro, contratarão desenvolvedores”, diz Reis. “Eles serão ‘fornecedores’ de quem detém os direitos de conteúdo da TV”.

Aparentemente, a interatividade permitirá uma ampla gama de possibilidades. “Tudo que se consegue fazer em meios digitais seria viável tecnicamente em um padrão de TV Digital, com as devidas parcerias e arranjos”, resume Reis.

Isto mostra que a solução da Tivo para pedir pizzas pela TV, pode ser realidade no Brasil. Exibir informações adicionais sobre um filme é só o começo. “Certamente haverá limites, mas o que é produzido hoje ainda está muito aquém de uma barreira”, opina Soares.

Questão em aberto
A questão de interesses financeiros pode gerar polêmicas, em alguns momentos, na implementação da interatividade, na opinião de Reis, que usa um exemplo da TV Digital pelo celular.

“Se você tem um programa por onde responde perguntas por SMS enquanto ele acontece, em um formato interativo, você vai ter toda a comunicação chegando pela rede de telefonia, e isso gera uma carga extremamente exigente para a operadora”, mostra.

Reis exemplifica dizendo que, apesar de hoje ser possível interação, quando se está recebendo o sinal pelo celular, ele se tornar canal de retorno é muito mais natural. "Imagine o programa perguntando: você quer que eu escolha o calouro A ou B?". Se o programa funciona e muda em função do público e a participação é grande, "será levantada uma discussão sobre modelos comerciais que acomodem interesses de quem oferece o conteúdo e quem dá a infraestrutura para isso acontecer", diz o especialista.

Soares concorda que, no geral, “isso é um problema de modelo de negócios que as emissoras terão que definir”, e seja isso com anunciantes ou operadoras. “Afinal, quando você compra um produto que tem na propaganda na TV, a loja não paga nada, pois já pagou a publicidade no canal”, diz.

Outra questão em aberto lembrada por Reis menciona a linguagem televisiva. "Como vai ser a dinâmica da televisão para o telespectador participar de forma rica e intensiva?", questiona.

Fonte: Idgnow

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