segunda-feira, 7 de abril de 2008

Brasileiros vão aos EUA vender TV digital

Alvo dos grupos nacionais, porém, não são os americanos, mas outros países da América do Sul

Renato Cruz

Os brasileiros desembarcam nos Estados Unidos na próxima semana para tentar vender o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que estreou na Grande São Paulo em dezembro. O alvo não são os americanos, que já se encontram na fase final da transição tecnológica - o país tem tecnologia digital própria, e vai encerrar as transmissões analógicas em fevereiro do ano que vem. Um dos 22 estandes do evento NAB Show, que acontece entre os dias 11 e 17 deste mês em Las Vegas, será ocupado pelo Fórum SBTVD, que, juntamente com empresas e centros pesquisas brasileiros, espera convencer outros países da América do Sul a utilizar a tecnologia.

“Estamos fazendo um grande esforço para a promoção internacional do SBTVD”, diz Luis Olivalves, coordenador do Módulo de Promoção do fórum, que reúne radiodifusores, indústria, pesquisadores e governo. O pavilhão terá uma demonstração da tecnologia adotada no Brasil, com um transmissor e dois televisores de LCD recebendo o sinal em alta definição. Haverá também equipamentos móveis e portáteis.

O SBTVD foi criado a partir da tecnologia japonesa ISDB-T. Houve duas modificações principais: a tecnologia de compressão de vídeo foi atualizada e foi criado um software de interatividade localmente. O software, chamado Ginga, não está disponível ainda em nenhum equipamento no mercado. Segundo Olivalves, não haverá demonstração do Ginga em Las Vegas.

“Esperamos que outros países adotem o sistema”, diz Moris Arditti, presidente do Instituto Genius, criado pela Gradiente. O instituto de pesquisa desenvolveu uma plataforma de conversor de TV digital, também chamado set top box, que quer licenciar para outros fabricantes. O conversor permite receber o sinal digital para assisti-lo em televisores analógicos.

“É uma solução voltada para empresas que não têm condição de desenvolver o produto internamente”, explicou Arditti. Segundo o executivo, o custo das peças para o set top box pode ser de US$ 50 ou menos, sem os impostos. Hoje, o conversor mais barato no mercado sai por cerca de R$ 500. “Se a empresa for extremamente competente, dá para ser mais competitivo.” O Instituto Genius tem equipes em São Paulo e Manaus.

EMISSORAS

A Idea Sistemas Eletrônicas, de Campinas, desenvolveu dois equipamentos que serão demonstrados na NAB. Um é um transmissor no padrão europeu DVB-S2, empregado pelas emissoras para transmitir o sinal para os satélites. O sistema usado para o envio de programação entre as emissoras, e que também é captado pelas parabólicas, é diferente daquele usado para a transmissão terrestre, recebido pelas antenas UHF.

Outro equipamento é um modulador ISDB-T, que envia o sinal para os conversores e televisores na casa das pessoas. Os equipamentos foram desenvolvidos em parceria com a Tecsys e o Laboratório para Integração de Circuitos e Sistemas (Lincs) do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene).

“A tecnologia DVB-S2 reduz em até 35% o custo de transmissão via satélite”, afirma Valdiney Pimenta, diretor da Idea. A Bandeirantes e a RedeTV já estão com o sinal digital no satélite. A Tecsys é responsável pela produção e comercialização dos equipamentos.

A Linear, fabricante de transmissores de TV de Santa Rita do Sapucaí (MG), terá dois estandes na NAB: um no pavilhão brasileiro, com equipamentos analógicos e com tecnologia ISDB-T, e outro para o mercado americano, com equipamentos analógicos e ATSC (tecnologia americana de TV digital). “Teremos novidades em ISDB e ATSC”, disse Carlos Alberto Fructuoso, diretor de marketing da Linear.

Atualmente, um quarto das receitas da Linear vem das exportações. No Brasil, o mercado está aquecido com as cidades que preparam o lançamento da TV digital depois de São Paulo. “Recebemos muitos pedidos de propostas”, afirma Fructuoso. A competição com os fornecedores estrangeiros, no entanto, não está fácil. “Eles têm isenção de impostos e nós não.” Segundo o executivo, existe um decreto que determina a isenção de impostos para os equipamentos fabricados no Brasil, que ainda precisa ser regulamentada por uma portaria. “Ela está sempre para sair, mas ainda não saiu.”

Fonte: Estado

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