quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

O admirável ano novo da Globo

A chegada do final de ano e das férias de verão são tempos nada convidativos aos telespectadores da nossa pouco atrativa TV aberta, considerada uma das melhores do mundo. É época dos especiais das semanas de festas; é o início de mais uma temporada de reprises.

Sobre os especiais da TV Globo, tão esperados, tão anunciados, a expectativa é o eterno retorno do mesmo. Alguns shows onde de fato não sabemos se foram realmente gravados no ano presente ou, se as suas imagens foram recuperadas de apresentações do mesmo artista, em programas dos anos anteriores. Alguns teledramas que fogem muito ao popular esquema do roteiro com início, meio e fim e, de profundidade comparável à fina casca de um arroz de festa. Todos, sem escapar algum, de todo lamentável.

Muitos entusiastas de bons programas de TV talvez prefiram os episódios inéditos de excelentes seriados norte-americanos a esses especiais made in Globo, apresentados como biscoitos finos. Nesse jogo de aparências, do me engana que eu gosto, sobra, talvez como verdadeiramente esperado, a tradicional vinheta que a “Vênus Platinada” lança todos os finais de ano para saudar a entrada do ano novo. Sempre tão criativa, na forma e no conteúdo, nela são reunidos todo ou parte do fabuloso elenco da TV Globo, com os seus astros e estrelas, jornalistas e apresentadores e também outros profissionais que durante o ano trabalham com afinco para fazer os sucessos - e outros nem tanto - que assistimos na telinha.

É sempre tão simpático, comovente e contagiante assistirmos, nos primeiros minutos do novo ano, os rostos iluminados da Fátima e do Bonner, do Tarcísio e da Glória, do Jô e da Ana Maria, do Tony e da Glorinha, dos Thiagos e das Cláudias, do Bial e da Glória Maria, enfim de todas as “glórias e amarguras”, que juntos fazem a história anual da emissora; cantando, por vezes de mãos dadas, saudando o novo dia e anunciando sonho de futuro.

Pois, no ano que é inaugurada a TV digital no Brasil e, uma nova torre de transmissão da Globo é ativada, na avenida Paulista, em São Paulo, em festa de muitas luzes e cores, a emissora apresenta a sua tradicional vinheta, na forma de um desenho animado de alta definição, onde os personagens, representando o seu grande elenco, aparecem envolvidos na construção simbólica da logomarca da empresa. Como se, em comemoração à chegada da TV digital, o elenco todo tivesse invadido ou, na pior das hipóteses, sido sugado pelo ciberespaço, o mundo digital, e passado a representar na zona chamada Segunda Vida (Second Life), um dos compartimentos do mundo virtual, onde seres vivos podem atuar, por meio de personagens, avatares, espécie de figuras de desenho animado.

Nada mais criativo, nada mais trabalhoso de construir, nada mais high-tech em termos de animação e divertimento. Emblemático, representativo, um registro louvável do ponto de ruptura entre gerações de tecnologias empregadas para se fazer televisão. Nada mais frio como resultado, nada mais distante do calor da vida real, nada mais despido de emoção. Um balde de gelo em plena era do aquecimento global. Tecnicamente perfeito, sentimentalmente tão gelado como a realidade do robô humanizado do filme Inteligência Artificial, dos cineastas Spielberg e Kubrick.

Com todas as letras, não aos avatares, ao mundo de Matrix, aos personagens rebolantes e sem alma de desenho animado e ao vazio do ciberespaço, dos quais, audaciosamente nos aproximamos com a nova realidade da TV Digital e com a vinheta do admirável novo ano da Globo. Não a mais remota possibilidade de substituirmos os nossos queridos artistas por seres de realidade virtual. Um sonoro sim para os verdadeiros Tarcisio e Glória, Jô Soares e Cláudia Gimenes, Antônio Fagundes e Ana Maria Braga e ao humano, demasiadamente humano, Luciano Huck!

Fonte: Brasilwiki

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