sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cônsul avalia que momento é de reaquecimento comercial

SÃO PAULO, 15 de janeiro de 2008 - A expectativa do cônsul geral do Japão em São Paulo, Masuo Nishibayashi, é que o Centenário da Imigração Japonesa estimule o intercâmbio não somente cultural mas também na área econômica com o Brasil. Após o período de estagnação nas décadas de 1980 e 1990, Nishibayashi avalia que o momento é de reaquecimento nas relações comerciais entre os dois países, citando a adoção pelo Brasil do padrão japonês de TV digital e os investimentos de fabricantes asiáticos do setor automotivo no mercado brasileiro.
Segundo ele, também cresce o interesse do Japão em novas áreas, além dos tradiocionais produtos básicos exportados pelo Brasil. Entre elas, alta tecnologia, moda - como acessórios, roupas e sapatos-, e energia limpa (etanol e biodiesel). Por outro lado, Nishibayashi cita como entraves à ampliação de investimentos no Brasil a complexidade do sistema tributário, questões trabalhistas, falta de infra-estrutura de portos e rodovias e questões de segurança. Veja abaixo os principais trechos da entrevista, concedida por email à Gazeta Mercantil.
Gazeta Mercantil - Neste ano será celebrado o Centenário da Imigração Japonesa. Várias atividades serão realizadas no âmbito cultural, mas em relação às relações políticas e econômicas entre os dois países?Há uma grande expectativa de que nesta oportunidade, a relação entre os dois países ganhe um estímulo não somente na área cultural, mas em várias áreas, como a política e a econômica. Em agosto de 2007 o então Ministro dos Negócios Estrangeiros Taro Aso, dentre outros, importantes políticos japoneses, visitaram o Brasil e promoveram o estreitamento das relações econômicas entre Japão e Brasil em várias áreas, como etanol, sistema japonês de televisão digital etc. Neste ano do Centenário há uma expectativa de que muitas personalidades importantes visitem o Brasil; especialmente no mês de junho, para quando está prevista a presença do Príncipe Herdeiro Naruhito nas cerimônias oficiais de Brasília, São Paulo e Paraná. As relações econômicas nas décadas de 1980 e 1990 estavam estagnadas, mas nesses últimos anos os investimentos japoneses, principalmente das indústrias, aumentaram constantemente e há fortes indícios de uma reativação desta tendência.

Gazeta Mercantil - Em quais áreas?

No ano passado, o total de vendas de quatro rodas e duas rodas foi o maior da história no Brasil, e neste ano há uma expectativa de novos investimentos no Brasil pelo setor industrial japonês de quatro rodas e duas rodas, e caso esta previsão se realize, esta expectativa poderá se expandir para os investimentos das industrias relacionadas às auto-peças. Podemos citar também, a aquisição da refinaria Nansei Sekiyu, baseada em Okinawa, pela Petrobras no ano passado. Em relação à televisão digital, está prevista para este ano a ampliação para as grandes metrópoles como Rio de Janeiro, Belo Horizonte etc., o que certamente desencadeará investimentos em equipamentos correlacionados. Assim sendo, 2008 é um ano de expectativas de um desenvolvimento extraordinário nas relações bilaterais no âmbito político, econômico e cultural.

Gazeta Mercantil - O que poderia tornar o Brasil mais atrativo em termos de investimentos? Quais seriam as principais áreas de interesse?

O Japão mantém relações estreitas com os outros países asiáticos principalmente por razões geográficas, mas acredito que o mercado brasileiro é também bem atraente para nós. Entre as décadas de 1950 e 1970, muitas empresas japonesas entraram no mercado brasileiro, e também houve investimentos de grande porte, como o da Usiminas, que completou seus 50 anos de fundação no ano passado. Após um período de estagnação, agora é possível sentir-se novamente o reaquecimento nas relações econômicas entre os dois países. A TV digital, investimentos para o aumento da produção de montadoras de automóveis japonesas, acompanhado da entrada e de investimentos de japonesas fabricantes de autopeças são bons exemplos. Com o passar dos anos, tem aumentado o número de visitas de altos dirigentes de diversas empresas japonesas ao Brasil, para conhecer a situação econômica brasileira ou firmar acordos comerciais de fato. Ainda, verifica-se o aumento do nível de interesse do governo japonês pelo Brasil, país ativo na área de recursos naturais/ bioenergia, e, no ano passado e retrasado, sucederam várias visitas ao Brasil de vários ministros japoneses e de deputados e senadores. Podemos dizer que isso também é uma prova da crença de que o Brasil se tornará um mercado atraente para o Japão. Tenho expectativa de que neste ano haja uma aceleração desta tendência.

Gazeta Mercantil - Atualmente, a pauta de exportação brasileira está concentrada em produtos básicos. Há oportunidades para outros produtos? Quais?

Produtos básicos como minério de ferro, soja, carne de frango e outros compõem uma grande fatia do que é importado pelo Japão do Brasil. O Japão que possui poucos recursos (naturais) depende do Brasil nessas áreas e acredito que essa relação continuará existindo. Porém, observa-se o crescimento do interesse por áreas diferentes das de até então, como a da indústria de alta tecnologia, verificado na decisão da companhia Japan Air Lines (JAL) de comprar jatos da Embraer. Além dessas, também tem aumentado o interesse pela marcas brasileiras na área da moda, como acessórios, roupas e sapatos. E na área do meio ambiente, a energia limpa como o etanol e biodiesel, que têm atraído a atenção do mundo inteiro, e os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) têm atraído muito o interesse japonês.

Gazeta Mercantil - O Japão já possui um acordo de livre comércio com o México e Chile. Há interesse em acordo semelhante com o Brasil?

O Japão vem estudando a possibilidade de acordos de livre comércio e de parceria econômica (FTA e EPA em inglês) com vários países e regiões do mundo, ultimamente com a Índia e a Austrália. O FTA/EPA com o Brasil ainda não foi concretizado mas dentro do contexto de aquecimento da relação econômica entre ambos, acredito que essa tendência deve se intensificar entre as empresas privadas dos dois países. Não querendo dizer que o relacionamento com outros países do Mercosul seja um entrave para o FTA/EPA, creio que o tema requer maiores estudos.

Gazeta Mercantil - Quais são os principais entraves para o aumento de investimentos no Brasil?

Podemos citar o sistema tributário, questões trabalhistas, falta de infra-estrutura e questões de segurança (ou seja, o custo-Brasil). Principalmente a falta de infra-estrutura de portos e rodovias. (Ana Carolina Saito - Gazeta Mercantil)

Fonte: Gazeta

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