sábado, 15 de dezembro de 2007

TV digital decepciona as universidades

ELVIRA LOBATO
da Folha de S.Paulo, no Rio

Depois da euforia inicial do meio acadêmico com a decisão do governo de implantar a televisão digital com inovações tecnológicas desenvolvidas no país, as universidades se decepcionaram com o atraso na liberação de recursos federais para custeio das pesquisas.

O Instituto Mackenzie, de São Paulo, aguarda há 16 meses a assinatura de um contrato de R$ 1 milhão com a Finep (Financiadora Projetos e Pesquisas, do Ministério da Ciência e Tecnologia) para construir a Estação Experimental da Televisão Digital, que medirá a qualidade de recepção dos sinais da TV digital transmitidos pelas emissoras.

A Finep disse que o contrato está em vias de ser assinado.

A estação deveria ter sido implantada antes do lançamento da televisão digital (ocorrida no último domingo, em São Paulo), o que não foi possível por falta de verba.

Segundo o coordenador do projeto, Gunnar Bendicks, professor da Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie, uma das funções da estação será informar à população as áreas em que os sinais não funcionam. "As emissoras fazem a medição, mas não têm interesse em divulgá-las", diz ele.

A mais famosa contribuição da academia para a televisão digital, o software da interatividade, chamado de Ginga, teve as pesquisas custeadas pela PUC do Rio de Janeiro por vários anos. O projeto tem a participação da Universidade Federal da Paraíba.

Um dos criadores do Ginga, Luiz Fernando Gomes Soares, da PUC do Rio, diz que a descontinuidade dos programas leva à desarticulação das equipes de pesquisadores. Ele disse que o projeto também sofreu atrasos nos repasses da Finep.

Por isso o andamento das pesquisas também atrasa. O Inatel (Instituto Nacional de Telecomunicações), de Santa Rita do Sapucaí (MG), assinou um convênio, de R$ 7 milhões com a Finep há cinco anos para desenvolver o laboratório de homologação dos sistemas de TV digital.

Segundo o presidente da Fundação Inatel, Adonias Costa, o projeto era de três anos, mas o prazo vem sendo adiado, por falta de verba. Ainda está pendente uma parcela de R$ 630 mil. A Finep alega que o Ministério das Comunicações não repassou o dinheiro.

Em 2004, o governo mobilizou as universidades para apresentar soluções tecnológicas para o sistema brasileiro de televisão digital. Foram formados 21 consórcios. As universidades dizem que quando essa etapa terminou, em 2005, faltou uma ação do governo para dar continuidade às pesquisas.

Ano da desarticulação

O ano de 2006, em que o governo fez a escolha pelo padrão japonês, é considerado como o da desarticulação dos projetos na área acadêmica.

As discussões passaram ao âmbito do fórum da TV digital, no qual indústrias e radiodifusores têm maior peso de votos, e cada universidade passou a agir isoladamente para tentar aprovar projetos na Finep.

O professor Marcelo Zuffo, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da USP, que havia coordenado o consórcio de discussão sobre o terminal de acesso, apresentou à Finep projeto para desenvolvimento da caixa conversora (set top box) em janeiro de 2006.

A USP esperou uma resposta da Finep até outubro deste ano, quando foi comunicada da recusa do pedido.

"Foi um processo muito desgastante. A discussão da TV digital acabou politizada, e nosso papel é científico. Não recorremos da decisão da Finep, porque a TV digital já foi lançada, e inovação tecnológica exige "timing"", afirma Marcelo Zuffo Ele diz que a USP continua as pesquisas do conversor, com recursos próprios, e que deve anunciar uma novidade nessa área em breve.

O conversor é o "calcanhar de Aquiles" da TV digital, pelo seu alto preço. O equipamento chegou ao mercado com preços entre R$ 499 e R$ 1.100, e o próprio governo pediu que os consumidores não o comprem antes que o preço caia.

Fonte: Folha

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